"O mosquito é democrático, não vê classe social, nem idade, nem sexo."

Dr. Paulo Marçal, diretor do Hospital Lourenço Jorge, desde a sua fundação, em fevereiro de 1996, vem monitorando a epidemia de dengue na zona oeste do Rio de Janeiro e coordenando as medidas preventivas para diminuir os números de casos de infecção.

Apesar de sua agenda lotada, ele recebeu a equipe do PortalBARRA para comentar sobre a epidemia de dengue na Barra da Tijuca.

PortalBARRA - Quantos casos de dengue já foram registrados no Lourenço Jorge?
Dr. Marçal - Desde o dia 15 de janeiro, temos registrado mais de 270 casos/dia, sendo registrado alguns casos registrados. O primeiro do Rio de Janeiro e em nossa comunidade foi na Rocinha, depois houveram outros inclusive em nossa região.

PortalBARRA - Qual a faixa etária mais comum?
Dr. Marçal - Adulto na faixa dos 40 anos. Porém, o
mosquito é democrático, não vê classe social, nem idade, nem sexo. Ele vem até dentro da nossa casa. Ele gosta é de água limpa e parada.
É preciso verificar as caixas d'água que estão descobertas,vasos de plantas, garrafas com a boca para cima e cacos de vidros em muros, muito utilizados para proteção de residencias.
Hoje se diz que as larvas já nascem doentes. A forma alada é combatida através do fumacê. A forma de larva é através de inseticidas. Estamos orientando para que as pessoas coloquem 1 colher de sobremesa de água sanitária na água que vai molhar as plantas. Outra dica: jogar caldo do fumo de rolo. Também está sendo experimentado em S.Paulo colocar areia nos vasos que ficam em baixo das plantas, misturada com borra da café.
As pessoas tem que ter consciência de que este mosquito ïnocente mata. A ação é de guerra.

PortalBARRA - Quantos dias vive o mosquito?
Dr. Marçal - O mosquito se reproduz rapidamente e pode deixar os ovos nas paredes do vaso. Qualquer chuva é suficiente para que ele se reproduza com o calor do sol.

PortalBARRA- Quais são os sintomas?
Dr. Marçal - Parecem um quadro de virose comum: febre, dor de cabeça, náuseas, mal estar geral, dor nas articulações. Na evolução podem aparecer os calafrios, plaquetas de sangue, já no quadro de dengue hemorrágica, que se torna fatal, por causa da falência dos órgãos por falta de sangue e a pessoa pode morrer por choque intra-venoso.
Temos que considerar também a resposta imunológica de cada um com relação aos sintomas. O importante é que, aos primeiros sintomas da doença, procure um posto de Saúde. É preciso tomar muito líquido durante todo o dia, inclusive com os hidratantes tomados pelos maratonistas. Repouso absoluta, uma boa alimentação.
Pode-se tomar um comprimido para dores de 6 em 6 horas.

PortalBARRA - A população está consciente ?
Dr. Marçal - As pessoas não acreditam que a doença pode matar, apenas um pequeno mal estar durante uns poucos dias.

PortalBARRA - A Barra é mais propícia à infestação por causa dos manguezais?
Dr. Marçal - Não, a água tem que estar parada, estagnada. Nos manguezais, a água está em movimento. Nós precisamos nos preocupar muito mais com os quintais, com os lagos artificiais, nas piscinas com águas paradas, que permitem o crescimento do mosquito.

PortalBARRA - A Funasa está brigando com o governo do estado, dizendo que foi enviada uma verba e não foi utilizada...
Dr. Marçal - O momento não é para brigas políticas.

PortalBARRA - Qual o número de atendimentos diários no Lourenço Jorge?
Dr. Marçal - O Lourenço Jorge foi inaugurado em 1º de fevereiro de 1996. Portanto, temos 6 anos de funcionamento. A estimativa inicial era de 12.000 atendimentos de emergência/mês. Hoje, os números chegam a 36.000 atendimentos/mês, o que representa uma média de 1.200 pessoas/dia. O Hospital é uma referência na região da AP4, atendendo a população da Barra e Jacarepaguá (85%). O restante vem de outras região, que chamamos de AP33, correspondendo a Irajá, Madureira, Cascadura, Rocha Miranda, Osvaldo Cruz. São pessoas que vem pela linha amarela ou pela grota funda, vindo de Campo Grande e Santa Cruz.
O nº de atendimentos do Lourenço Jorge em relação ao crescimento da população da AP4, podemos dizer que o crescimento populacional está em torno de 7% ao ano e o crescimento de atendimento do hospital foi de 127%. Fechamos um estudo com análise de acompanhamento gráfico, o que dá uma previsão de 2013 o número de atendimentos/ano será igual à população total da AP4. Precisamos de uma intervenção, uma vez que saúde não se faz com atendimento de emergência, mas com prevenção e com promoção , para uma melhoria de qualidade de vida. As pessoas precisam estar melhor orientadas, preservar o meio ambiente, manterem uma consciência ecológica.

"É preciso verificar as caixas d'água que estão descobertas,vasos de plantas, garrafas com a boca para cima e cacos de vidros em muros, muito utilizados para proteção de residencias."


PortalBARRA - Quais são os casos mais freqüentes de atendimento no Lourenço Jorge?
Dr. Marçal - São seguramente os casos de acidentes de trânsito. Em 98, quando saiu o novo código de trânsito, houve uma queda de 30%. Hoje, os números voltaram a aumentar.
Porque tantos acidentes de trânsito? Principalmente por causa do álcool e ingestão de mistura com drogas. O movimento da noite começa na quinta-feira, até domingo.
Os acidentes de motos são os de maior número.

PortalBARRA - O Lourenço Jorge trabalha com voluntários?
Dr. Marçal - Hoje a nossa equipe tem 180 médicos, serviços contratados (620) e funcionários da Prefeitura, em torno de 280. Terceirizamos segurança, pessoal da cozinha, manutenção, lavanderia, em torno de 300 pessoas. O total de profissionais atuantes no Lourenço Jorge chega a 1.200. Contamos também com a Sociedade de Amigos do hospital, que traz parceiros que contribuem nas atividades. São a Câmara Comunitária, instituições religiosas, entre outras. Não temos discriminação. Quem chegar será bem vindo. O grupo de voluntários são pessoas respeitadas que desenvolvem um belo trabalho de cidadania no hospital.

PortalBARRA - Quais são as especialidades oferecidas no Lourenço Jorge?
Dr. Marçal - A grande especialidade é a clínica médica. Mas temos nos destacado em pediatria, conseguindo chegar a uma taxa de mortalidade perto de 0%. O serviço de traumaortopedia com procedimentos cirúrgicos de alta tecnologia. A cirurgia geral presta todo tipo de assistência de forma competente diante da fatalidade.
Hoje estamos voltados para oferecer qualidade de serviços aos pacientes que aqui chegam. E qualidade de serviços para mim significam segurança. O paciente quer estar seguro de ser bem atendido.

PortalBARRA - Todo hospital público tem uma imagem negativa. Como o Lourenço Jorge consegue evitar isto?
Dr. Marçal - A imagem do Lourenço Jorge é altamente positiva perante a população, por vários motivos. A sua arquitetura não polui visualmente, pois preserva o ambiente . Não polui a atmosfera, porque as nossas caldeiras são à base de gas. Nossa estação de tratamento de esgoto deixa a água 100% tratada. Não temos poluição auditiva. A estrutura arquitetônica horizontalizada, utilizando a cromoterapia, proporciona um ambiente agradável e favorável à rápida recuperação dos pacientes. As paredes são de vidro. Os pacientes aqui sabem quando é dia, noite, sol, chuva. As visitas são diárias, humanizando o atendimento.

PortalBARRA - Fale um pouco sobre a construção da Maternidade Mariana Crioula.
Dr. Marçal - Este projeto foi planejado já em 95, quando na construção do hospital. Agora em 2002 foi dado o pontapé inicial, com previsão da construção em 394 dias. Terá 2 andares e 80 leitos, para atender a gestantes, parturientes e crianças, com UTI neonatal.
A Maternidade Mariana Crioula vai preencher um vazio na Barra, uma vez que as maternidades mais próximas, que ficam nos Hospitais de Curicica e Miguel Couto, já não conseguem atender à demanda cada vez mais crescente dos moradores da zona oeste.

(Veja a matéria realizada em 23 de novembro de 2001)

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