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Entrevista
com Leila Brandão, pedagoga, autora do livro "Manual
para professores e pais de primeira Viagem"
Infância
em Condomínio
Estamos criando crianças felizes ou inseguras?
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PORTALBARRA
: A criança que cresce em um condomínio fechado está
preparada para enfrentar a vida fora dele?
Leila Brandão: - Sim porque o espaço e a segurança
que os condomínios oferecem favorecem o seu desenvolvimento
sadio, dando-lhe oportunidade de trabalhar sentimentos valiosos
como a solidariedade, o respeito e a boa-vontade.
No entanto, há que oferecer condições para
que ela conviva também, ainda que eventualmente, com crianças
de outros níveis sociais. É importante que veja o
que acontece por trás dos muros do condomínio. Atividades
como visitas em orfanatos ou comunidades pobres da periferia, onde
ela possa dividir os seus brinquedos, enseja oportunidade de entrar
em contato com realidades diferente da sua e tornar-se generosa
e altruísta.
Não devemos permitir que as crianças cresçam
como se estivesse em uma "redoma de vidro", porque os
pais não duram para sempre e é importante que ela
veja o mundo com as cores reais.
PORTALBARRA
: A criançada deve ficar totalmente "solta" no
condomínio?
Leila Brandão: - A resposta é sim, se entendermos
como "solta" a quebra da rotina nos finais de semana,
sem comprometer os estudos.
Porém, a resposta é não, se entendermos como
"solta" a criança criada sem limites. Criança
sem disciplina - come o que quer na hora que quiser, toma banho
quando acha melhor e dorme de cansaço sem dar-se o tempo
para a higiene necessária ao sono - será um adulto
profundamente angustiado e terá dificuldade em organizar-se
frente aos desafios de crescimento que a vida impõe. Diz
a educadora Tânia Zagury que educar exige muito trabalho dos
pais e a ausência de limites na educação traz
consequências graves para o futuro.
PORTALBARRA:
Isso quer dizer que devemos controlar os passos da criança?
Leila Brandão: - Sim. É importante saber onde
ela está e com quem anda. A prática de falar sempre
a verdade é fundamental. Os pais devem criar o hábito
de serem claros e verdadeiros com seus filhos. Nem mesmo a "mentirinha
inocente" deve ser cultivada. Não existe mentira inocente.
A criança é verdadeira. A mentira e a dissimulação
são hábitos passados pelos adultos. Fiquemos atentos
aos nossos atos para não nos decepcionarmos com os filhos
depois.
PORTALBARRA:
O fato de conhecer os pais do amiguinho da sua criança lhe
dá a segurança de que ele é boa companhia para
ela?
Leila Brandão: - Nem sempre. Cecília Meireles
nos lembra que "temos as paisagens da nossa infância
imortalizadas em nós". Isso representa dizer que qualquer
descuido na fase infantil pode deixar marcas para o futuro. Cecília
enfatiza ainda que "nós todos desejamos uma humanidade
melhor. Olhemos para as crianças de hoje não apenas
com inútil carinho, mas com elevada inteligência."
Cada pai tem
o direito de educar o seu filho dentro da sua visão de mundo,
e às vezes o que é bom para o seu amigo não
é bom para você. Observe a brincadeira da sua criança.
Diz Jung que "brincar é coisa séria". Na
brincadeira emergem as necessidades emocionais da criança
e a observação dos pais é importante para que
os erros sejam corrigidos no momento certo. Por mais que confie
no amiguinho, as brincadeiras devem ser observadas.
Fica aqui, portanto,
um conselho aos educadores, sejam eles pais, mães, avós
ou rios: Quanto mais participativo forem na sua comunidade e na
vida de sua criança, melhor será para o crescimento
dela. Ensina-nos padre Antonio Vieira:"Palavras falam ao vento,
somente as obras falam ao coração."
Leila Silva
Brandão
*Citações
extraídas do livro "Crônicas de Educação"
de Cecília Meireles
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