SALVANDO O COMPLEXO LAGUNAR DE JACAREPAGUÁ

Nos últimos 30 anos, as lagunas da Tijuca, Camorim e Jacarepaguá, que ocupam quase 7% de toda área da Baixada de Jacarepaguá (140 Km2), sofreram um processo crescente de degradação causada pelo homem.

Aterros ilegais, lançamento indiscriminado de lixo e esgoto, dragagens mal conduzidas, além da ocupação ilegal de suas margens produziram uma deformação na natureza.

Esta deformação das condições naturais das lagunas de Jacarepaguá é indesejável à boa qualidade de vida do carioca e deve ser revertida. Ainda temos tempo para recuperar uma das mais belas paisagens do Rio de Janeiro. Basta que a sociedade organizada tome para si a fiscalização e a condução das cobranças.

Com o início das obras do saneamento básico da região torna-se sensato programar as ações de revitalização do complexo lagunar. Prioritariamente duas são as iniciativas emergenciais que indicam ser as mais eficazes para interromper a progressão da degradação.

Uma delas é a dragagem de desobstrução da garganta lagunar na altura do arquipélago da Ilhas da Gigóia entre outras, ou seja, atrás do Shopping Barra Point. Esta desobstrução aumentaria a capacidade das trocas de água entre o mar e as lagoas, renovando as suas águas. Outra vantagem seria a resalinização das águas da Lagoa de Camorim e Jacarepaguá o que minimizaria os riscos da proliferação dos mosquitos da febre amarela e do dengue.

Outra ação emergencial seria a demarcação da faixa de proteção lagunar. Ao longo dos últimos a ocupação ilegal e a falta de manutenção das margens propiciaram a perda de área do espelho d’água além do aporte de grande quantidade de lixo e sedimento, assoreando (perda de profundidade) as lagoas.

Com base nos levantamentos aerofotogramétricos dos anos de 75, 84, 90 e 99 foi possível definir o percentual ocupado e não ocupado da faixa marginal da Lagoa de Marapendi. Considerou-se uma faixa de influência com 100 metros de largura a partir da linha d’água da laguna. Percebe-se que atualmente mais da metade de sua faixa marginal já se encontra ocupada. A situação das lagoas de Jacarepaguá e Tijuca seguem a mesma tendência. O gráfico a seguir mostra a tendência de evolução da ocupação da faixa marginal da Lagoa de Marapendi; a continuar o mesmo ritmo de ocupação observado entre 1975 a 1999.

Obviamente que a dragagem não pode e nem deve ser realizada sem critérios e técnicas adequadas. Deve, sim, ser realizada de maneira ambientalmente sustentável onde os benefícios e os ônus sejam divididos com todos os atores da sociedade, direta e/ou indiretamente, interessados.

A priori governo, comunidade organizada, empresários, universidades, e ambientalistas seriam os personagens destacados para conduzir o processo.

Tem-se aí uma grande oportunidade de realizar um programa de recuperação lagunar com a participação de vários segmentos da sociedade visando o bem comum e a transparência do processo.

A nível operacional sugere-se a formação de um conselho técnico composto por representantes técnicos do governo, empresários, comunidade, e universidade para conduzir as decisões operacionais de campo. Além disso estes representantes ficariam incumbidos de informar, discutir, e levar as impressões dos diversos setores da sociedade que representam para este conselho.

Trata-se de uma oportunidade impar e quem sabe possa ser modelo para futuras ações visando o desenvolvimento sustentável da Baixada de Jacarepaguá.


David Zee

Vice-Presidente da Câmara Comunitária da Barra

Professor da Universidade Gama Filho e UERJ

 
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