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Infância
em condomínio fechado.
E QUANDO NOSSOS FILHOS TIVEREM QUE ENFRENTAR
O "MUNDO LÁ FORA"?
Ana
Magioli
Educação
não tem receita, mas que tal começar com ação
comunitária para combater o medo da perda, do ataque
e proporcionar autoria e autonomia em crianças e adolescentes?
Diante
da violência urbana, instalou-se nas famílias
e principalmente entre pais e filhos o medo do ataque e da
perda.
A defesa
mais lógica é o isolamento e a fuga para os
condomínios, onde os filhos e mesmo os adultos estão
protegidos pelas seguranças e espaços exclusivos.
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Constantemente
entro em contato com famílias que trazem queixas de dependências
dos filhos, inação, indolência e falta de garra,
contato com drogas e desânimo para estudar, trabalhar e entrar
no mundo do adulto.
Tenho refletido
com estas famílias sobre o medo e o desejo subjacentes à
escolha dos condomínios cada vez mais fechados para morar.
Parece que a
desconfiança do outro instalou-se como possibilidade de estabelecer
relações entre os seres humanos.
A separação
e a segregação têm sido usadas hoje, no mundo
todo, para dar conta dos conflitos social e cultural.
Diante do confronto
com o outro, diferente e agressivo, a escolha parece ser o afastamento
e o isolamento cada vez maior.
Estabeleceu-se,
então, que o melhor é afastar os filhos, permitindo-se
apenas o shopping, a escola próxima e o condomínio.
A proteção,
a segregação e o excesso de cuidados, no entanto,
vem gerando, como era de se esperar, outras questões entre
os jovens.
Todos sabemos
que a construção da autonomia e independência
fazem-se gradativamente, desde a amamentação, quando
é permitido ao bebê espaço e tempo de espera,
respeito à própria diferença, etc, até
à idade adulta, com depositação de confiança
nas possibilidades de cada ser humano.
O medo, a ansiedade
e a insegurança vêm levando os pais a não permitir
aos filhos experimentar por si mesmo riscos, perdas, ação
própria sobre o mundo, correndo, assim, o risco de instalarem
nas crianças desconfiança em si e no outro, dependência
e insegurança.
A meu ver, o
maior agravante da dependência, da inação e
do não desejo é o medo do outro e a desconfiança
em si mesmo e no mundo, pois o sujeito não pode experimentar
agir diante da realidade.
No mundo de
hoje, podemos compreender o desejo dos pais de proteger, mas devemos
refletir sobre o outro extremo, que é a total desconfiança
de que os filhos possam experimentar o novo, formar defesas e assumir
responsabilidades compatíveis com a idade. Antever perigos
e riscos fora da proteção dos pais e seguranças
é um grande crescimento e certamente irá favorecer
depois as escolhas, ações e tomadas de decisões
do adulto.
Para os pais,
é confortável saber que os filhos estão em
segurança e protegidos contra os perigos lá fora,
mas e quando eles têm que experimentar o "lá fora"?
Precisamos refletir, mas também buscar saídas. Uma
das possibilidades, a meu ver, de encontrar formas de convivências
menos segregatórias e alienantes parece já despontar:
é o incentivo ao envolvimento de pais e filhos em projetos
e campanhas sociais através das escolas, associações,
condomínios, igrejas, clubes, etc.
O envolvimento
da criança e do adolescente em trabalhos comunitários
traz contato com a realidade, promovendo abertura para a ação
conjunta, discussão, busca de soluções sobre
os problemas da região . Funciona também educativamente
por todas as vias, desde a ação e cooperação
que precisamos atingir enquanto humanos, até o enfrentamento
do medo, da ansiedade, da insegurança que precisamos combater,
colocando a mão na massa.
Que tal comerçar agora?
Ana Magiolim é psicopedagoga
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