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SEBASTIÃO
ARAÚJO
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1961
- Jogador da Portuguesa
1962 1965 - Treinador da Portuguesa
1966 a 1979 - preparador físico e treinador
do Fluminense
1976 e 1977 - preparador da Seleção
da Olimpíada
1977 a 1979 - preparador físico da Seleção
Brasileira
1979 a 2000 - trabalhou no exterior como técnico
das seleções da Arábia Saudita,
Emirados Árabes, Trinidad-Tobago e Hong-Kong.
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PortalBARRA:
O que achou do grupo que foi convocado pelo Felipão?
Sebastião Araújo: A grande polêmica foi o
Romário. Como treinador, sei da importância de se ter
confiança nos jogadores. O Felipão perdeu a confiança
no Romário, pelo que foi dito, desde o dia em que o Romário
não foi para a Copa América. Ele foi convocado duas
vezes e na terceira pediu dispensa para fazer uma operação
na vista e não fez, foi jogar com o Vasco. Foi uma decepção
para o treinador. Sou amigo dos dois, do Romário e do Felipão.
Eu o conheci mais de perto quando era treinador do Baharem e ele era
do Kwait. Na pele do treinador, sei que ele se sentiu frustrado pela
atitude do Romário.
A ligação treinador-jogador tem que ser aquela confiança
que a gente deposita no filho. Quando ele viu que o Romário
não fez a operação e que saiu dali para jogar
em Cancun com o Vasco, ele ficou magoado, pois estava precisando naquele
momento do reforço do jogador. |
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PortalBARRA:
Além do Romário, o Felipão encontrou outras
dificuldades?
Sebastião
Araújo: Na Seleção, o Felipão passou
por muitas dificuldades, principalmente nas eliminatórias.
Foi muito diferente das eliminatórias que enfrentamos em
1977, quando o Oswaldo Brandão saiu e entrou o Coutinho.
Foi muito fácil para o Brasil naquela época. Esta
eliminatória, assim como a anterior, com o Parreira, foi
muito desgastante. Então, o Felipão formou um time
que lhe inspira confiança, com jogadores bons, que estão
fazendo sucesso no mundo inteiro.
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PortalBARRA:
Com este time, a gente conquista a Copa?
Sebastião
Araújo: O Felipão teve muito pouco tempo para
preparar. Em Copas anteriores, tínhamos dois meses para treinar.
Ficamos no Embu 45 dias concentrados, fazendo da seleção
um time de futebol. Agora ele tem bons jogadores, mas está
pegando um que joga na França, outro na Alemanha, outro na
Itália, os outros de São Paulo (antigamente a maioria
era de carioca... pra gente ver como as coisas estão mudando!).
Com este pouco tempo, ele vai passar por alguns sustos mais por
falta de entrosamento. Algumas seleções já
estão prontas há anos, principalmente a que iremos
enfrentar na fase classificatória, que é a da Turquia.
A seleção da Costa Rica está mais do que pronta.
A China, nem se fala! Quando jogamos há 2 anos contra o Hong
Kong era o mesmo time que está treinando. Só mudou
o treinador.
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PortalBARRA:
Qual vai ser o maior adversário do Brasil?
Sebastião
Araújo: Serão dois, os maiores adversários:
Argentina e França, até por uma questão de
tradição. A camisa pesa muito. São as duas
seleções mais ajustadas. Mas futebol é como
loteria esportiva. Se o treinador soubesse prever os resultados,
ganharia todas as loterias esportivas... Copa do Mundo não
é um campeonato de turno e returno igual aos campeonatos
ingleses, por exemplo. O grande problema é que a Copa é
uma competição curta. Quando chega numa fase da eliminatória
que um descuido tira um time da competição. Na fase
da classificatória, é mais tranqüilo. São
3 jogos, dá para tropeçar em um deles e se recuperar
no outro. Mas um pequeno azar ou um insucesso na etapa final elimina.
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PortalBARRA:
O que você achou da tática do Felipão de 3-5-2?
Sebastião
Araújo: O Lazaroni já levou esta tática
em 90, quando foi para a Itália, doze anos atrás.
O Beckenbauer, há 10 anos atrás, quando era treinador
da Seleção Alemã e foi também campeão
do mundo, numa mesa redonda, declarou: - Se você jogar comigo
no 3-5-2 eu liquido você. O que é preciso fazer, depois
do time ajustado, é jogar em grupo. Hoje em dia, são
os 10 que defendem e os 10 que atacam. Está se falando muito
em número. Muita gente discute futebol, mas pouca gente estuda
futebol. Se ele vai jogar no 4-4-2, ou 3-5-2 ou 5-3-2, é
indiferente. Mas, pelo nosso passado, não estamos acostumados
a jogar com 3 zagueiros. Sempre para uma tática tem uma contra-tática.
Se eu jogo no 4-4-2, o adversário vem armado de outro jeito.
Se eu jogo no 3-5-2 e os adversários da Europa sabem disso,
vão dificultar o Brasil.
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PortalBARRA:
Qual vai ser o grande nome desta Copa?
Sebastião
Araújo: Já tomei conta das Seleções
lá fora, pois a Fifa pede sempre para a gente eleger os 3
melhores jogadores. No momento, tenho o Ronaldinho Gaúcho,
o Figo de Portugal e o nosso terceiro, o Ronaldão, é
uma incógnita. Ele passou quase 3 anos parados e precisa
voltar ao ritmo de jogo. Se ele voltar ao que era, ninguém
vai ter dúvidas. Só vamos saber quando começar
a sucessão de jogos.
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PortalBARRA:
Porque o nosso futebol carioca está tão por baixo?
Sebastião
Araújo: O futebol carioca era a vitrine do futebol brasileiro.
Qualquer jogador, para se promover, queria jogar no Rio. Agora,
os jogadores querem sair. Até os nossos treinadores, como
o Parreira, que ganhou dois títulos em São Paulo,
o Oswaldo de Oliveira, que foi preparador físico junto comigo
durante 3 anos em Quatar, saiu do Fluminense para São Paulo.
O Vanderlei Luxemburgo está também em São Paulo.
O próprio Zagalo, meu vizinho aqui do Condomínio,
foi treinar a Portuguesa de Desportos em São Paulo. Então,
São Paulo está igual aos árabes da década
de 80, quando mandavam no mundo e levaram todos os jogadores e treinadores
bons para lá.
É preciso lembrar que São Paulo vem preparando uma
boa estrutura há muito tempo, construindo centros de esportes,
campos de futebol, organizando seus times...
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PortalBARRA:
A causa desta evasão não se deve também à
má administração dos clubes cariocas?
Sebastião
Araújo:Tudo parte dos dirigentes. Ninguém destrói
uma coisa se não tiver os cabeças. O nosso futebol
é profissional, mas dirigido por amadores. Eles fazem tudo
movido a paixão, sem responsabilidades. Não gosto
disso, não faço. Depois, eu vou embora, quem paga
é o outro. Isto vem acontecendo há muitos anos. Deu
no que deu.
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PortalBARRA:
Este quadro tem solução?
Sebastião
Araújo: Pra tudo existe uma solução. O
Rio de Janeiro é um potencial, um celeiro de craques. Só
precisa de seriedade. Na época em que eu era idealista, escrevi
um livro criticando as condições de trabalho no Brasil.
Tive a idéia de escrever quando comparei a infra-estrutura
da Alemanha em minha estada lá. O meu clube, o Fluminense,
só tinha um único campo, onde treinava todas as equipes.
Em Liverpool, eles tem 4 campos para treinamento e não é
um clube grande. São Paulo, Minas e Paraná estão
muito na frente do Rio, onde os clubes perderam até os campos.
Outro dia o Zico cedeu o estádio dele para o Flamengo treinar
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PortalBARRA:
O Brasil ainda é respeitado no mundo como "o país
do futebol"?
Sebastião
Araújo: Nós somos uma bandeira nacional. Quando
a gente chegava em qualquer país, o embaixador nos recebia
e dizia: "Vocês são os verdadeiros embaixadores
do Brasil". No Irã, só se conhecia o Brasil por
causa do café e do Pelé. Quando a gente está
fora do país, fica mais por dentro do que acontece aqui dentro.
Quando estamos aqui, estamos no meio do caldeirão, não
percebemos bem o que acontece. Antigamente o dirigente servia ao
clube. Nos últimos 15 anos, o dirigente se serve do clube.Já
vimos vários dirigentes serem candidatos a deputado, vereador,
entram pobre e saem rico... Antes, o dirigente dava dinheiro para
o clube, até adiantava dinheiro para folha de pagamento ou
comprava um jogador. Ele era o clube. O clube hoje é uma
empresa: se o dirigente der prejuízo ao seu clube, tem que
pagar
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PortalBARRA:
De qual time você gostaria de ser treinador hoje?
Sebastião
Araújo: Para nós, treinadores, o jogador, a bola
e o campo são iguais em qualquer lugar, independente da bandeira.
Não temos pátria
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PortalBARRA:
Além de futebol, você pratica outras atividades esportivas?
Sebastião
Araújo: Tênis, bocha, vôlei na praia, sinuca.
Fui campeão no torneio de tênis do Atlântico
Sul e estou na final da bocha.
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