COTIDIANO DE CRIANÇAS NA BARRA: ALGUMAS REFLEXÕES

A Barra da Tijuca é um bairro diferente de todos os outros da cidade do Rio de Janeiro, tendo sido projetada dentro de uma concepção urbanística semelhante à das cidades americanas, onde predominam avenidas e vias expressas.

Por conseguinte, a circulação de pessoas se realiza, fundamentalmente, através do uso do automóvel, tornando relativamente dispensável a existência de ruas e calçadas para pedestres.

Junto à concepção urbanística do bairro, os conceitos de praticidade, rapidez e fácil acesso a bens e serviços, cada vez mais presentes na vida moderna, encontraram campo fértil para seu desenvolvimento. Afinados com essas demandas, os shopping centers e os condomínios cresceram com grande velocidade, oferecendo num único espaço trabalho, consumo e lazer para todos os gostos e idades. Além disso, os condomínios oferecem proteção contra a violência urbana, através de um grande e sofisticado aparato de vigilância.

Desta forma, os moradores da Barra podem praticar esportes, passear, fazer compras, ir para escolas e bancos, tudo isso sem precisarem sair do bairro, ou, até mesmo, do próprio condomínio.

Evidencia-se, portanto, um afastamento e isolamento do cotidiano desses moradores em relação ao restante da cidade. O contato com o espaço urbano como um todo fica bastante reduzido, já que essas pessoas circulam em locais semi-públicos, ou seja, lugares construídos para a circulação de pessoas em função de uma determinada finalidade, e que se caracterizam por terem acesso restrito e vigiado.

O que podemos pensar acerca da educação das crianças que vivem neste contexto?
Propomos uma reflexão pra os pais e educadores, levantando algumas questões:
:: O fato das crianças viverem o seu dia-a-dia afastadas do restante da cidade, privadas do espaço público, local de trocas e diversidade de experiências, pode dificultar o desenvolvimento da noção de cidadania, através da qual assume-se a responsabilidade pelo que é comum a todos?

:: Conviver quase que exclusivamente no interior destes espaços protegidos e restritos a uma parcela restrita da população dificulta o reconhecimento e o relacionamento com as contradições e diferenças sociais, presentes nos diversos espaços da cidade?

:: A sensação de tranquilidade e proteção que a organização do bairro oferece contribui para a ilusão de que "aqui nada nos afetará", isto, é, "aqui estamos salvos" dos riscos da cidade?

:: Com que freqüência as crianças são vistas acompanhadas e muitas vezes cuidadas por suas babás em tempo integral? É possível estabelecer uma correlação entre este fato e algumas das características do bairro?

Deixar estas questões em aberto deve-se, por um lado, à complexidade que elas apresentam e por outro, a importância de instaurar um debate entre pais e educadores. Se a transformação dos modos de vida e da cultura da comunidade determinam os valores e crenças que são transmitidos para as novas gerações, faz-se necessário que pais e educadores tomem para si a tarefa de refletirem criticamente sobre estas questões.

Maria Angélica C. Moreira Carneiro - Psicanalista - CRP 05/13865
a.carneiro@wnetrj.com.br

Cristiane Mazza - Psicanalista - CRP 05/18993
crismm@ism.com.br

 
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